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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Gavetinhas

A memória é uma habilidade que me surpreende. Às vezes me lembro de coisas tão antigas, frases inteiras. Outras vezes não sei a palavra que quero dizer. Esse fim de semana na praia me senti tão à vontade, tudo tão familiar. Ainda não me acostumei com a ausência do meu pai. Isso nunca vai acontecer. Me lembrei de várias pessoas que estiveram lá, ao tocar um objeto, ao ouvir uma música, ao olhar o céu lá na varanda. Mas uma coisa me intrigou, a memória parece uma gaveta, várias gavetinhas dentro da nossa cabeça. Elas vão se abrindo sem que você deseje e trazem sensações, barulhos, cheiro, cores. Uns mais interessantes que os outros, uns tão emocionantes que desejamos lembrar sempre. Só que a memória é quem manda em nós, e não o contrário. Porque estava lá, na rede, olhando o céu e de repente começaram a se abrir gavetinhas das quais saíam coisas que não pertenciam às memórias dali. De pessoas que nunca pedalaram comigo na praia, nem caminharam no fim da tarde junto de mim e do porquinho, nem estiveram naquela casa, naquela piscina. E essas memórias iam saindo e aumentando e crescendo e eu fui ficando confusa pois meu desejo era colocá-las de volta na sua gavetinha. Mas elas cresciam e cresciam e me enchiam de saudade. Eu tentava dobrá-las e elas cresciam e quanto mais eu dobrava mais elas cresciam. A única coisa que pude fazer foi sentir, deixar a saudade chegar e esperar que ela decidisse a hora de ir embora.

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